Para encerrar a semana compartilho um conto zen para nos ajudar a refletir sobre a importância de soltar.
Quantas vezes permitimos que nossa mente se mantenha ocupada com preocupações ou fatos que já aconteceram? Vamos observar a energia de nossos hábitos?
O momento pede que deixemos que nossas antigas folhas caiam.
Solte!
Com amor,
Lyzi
Carregar e Ser Carregado
Um velho monge e um jovem monge estavam andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz.
O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando uma bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles.
A moça estava vestida com muita elegância, abanava o leque e piscava muito, sorrindo com olhos muito grandes.
– Oh – disse ela –, a correnteza é tão forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o molhar. Será que vocês poderiam me carregar até o outro lado do rio?
E ela se insinuou sedutora para o lado do monge mais jovem.
O jovem monge não gostou do comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma lição. Além do mais, monges não devem se envolver com mulheres. Então ele a ignorou e atravessou o rio.
Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram pela estrada.
Embora andassem em silêncio, o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela moça mimada. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido às regras dos monges.
O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo montanhas e atravessando campos.
Finalmente, ele não aguentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio carregando a moça. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.
– Ora, ora –, disse o velho monge. – Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.
E, dando de ombros, continuou a caminhar.
Este conto, intitulado Trabalho inútil, faz parte do lindo livro de coletânea Contos Budistas, recontados por Sherab Chödzin e Alexandra Kohn, ilustrados por Marie Cameron, editado no Brasil pela Editora Martins Fontes, tradução de Monica Stahel, São Paulo, 2003.