Como me sinto quando alguém percebe um erro ou falha em mim?

Hoje nossa reflexão é sobre perfeição.

Do latim PERFECTĪO, se refere ao que é perfeito, sem apresentar falhas, erros ou defeitos. Também pode ser relacionada ao sentido de progresso e completude.

“Vou fingir que está tudo bem.”

“Vou dar conta. Só mais um minutinho.”

“O que os outros vão pensar?”

“Deixa que eu resolvo.”

“Olha a sua cara!”

“Olha o tamanho que você está nesta foto!”

“Vai deixar essa louça suja aí?”

“Vou ficar quieta e deixar que o tempo resolva isso.”

Já ouviu alguma destas frases antes? Reconhece essas vozes? Bem, eu sim. Essas e muitas outras representam o senso de perfeição que habita dentro de nós.

Podemos sentir sua presença em relação a nossa aparência, autoimagem, família, dinheiro, trabalho, saúde, sexo, amizades, alimentação, religião… Enfim, em todas as áreas da vida.

Existe um sentimento que geralmente acompanha a voz da perfeição: a vergonha. Sim. Não é fácil admitir nossas falhas, erros e defeitos. Temos medo que as pessoas não gostem de nós se souberem a nossa verdade, se souberem quem verdadeiramente somos “por trás das câmeras”. E logo depois vem a culpa.

Como me sinto quando alguém percebe um erro ou falha em mim ou em algo que fiz/falei? Como lido com alguém que erra ou falha comigo?

Culpa = Eu fiz algo ruim.

Vergonha = Eu sou ruim.

A vergonha é um sentimento doloroso que nos leva a crer que somos indignos de amor ou pertencimento. Mas quero te dar uma boa notícia: todo mundo tem!

Sim! Todas as pessoas sentem vergonha. E quanto menos falamos sobre ela, mais espaço ela ganha dentro de nós. Ao escolhermos ficar em silêncio, damos espaço para a autocrítica crescer, e assim permanecemos “colados” àquele fragmento da realidade que vivemos.

Ninguém é perfeito – você também já escutou isso antes. Nesse momento de quarentena então… nem se fala!

Vamos falar mais sobre nossas experiências com a vergonha? 

A seguir, compartilho um breve texto da autora Brene Brown, pesquisadora e autora de diversos livros/vídeos sobre vulnerabilidade, para ajudar em nossas reflexões 🙏 

Boa leitura!

Com amor,
Lyzi

Como é a aparência da vergonha?

Quando se trata de compreender como podemos nos defender da vergonha, tenho o maior respeito pelo trabalho do Stone Center, em Wellesley. A Dra. Linda Hartling, antiga teórica cultural-relacional no Stone Center e agora diretora de Estudos de Dignidade Humana e Humilhação, usa o trabalho da falecida Karen Horney sobre aproximação, confrontação e afastamento para delinear as estratégias de desconexão que usamos para lidar com a vergonha.

De acordo com a Dra. Hartling, para lidar com a vergonha, algumas pessoas se afastam, recolhendo-se, escondendo-se, silenciando-se e mantendo segredos. Outras pessoas se aproximam, procurando satisfazer e agradar os outros. Outras, ainda, buscam o confronto, tentando, assim, dominar os outros através da agressividade e do uso da vergonha para combater a vergonha (algo como enviar e-mails realmente cruéis).

A maioria de nós adota todos esses comportamentos, em momentos diferentes, com pessoas diferentes, por razões diferentes. Mas todas essas estratégias nos afastam da nossa história. Vergonha diz respeito a medo, culpa e desconexão. História diz respeito a valor pessoal e aceitar as imperfeições que nos dão coragem, compaixão e conexão. Se desejarmos viver plenamente, sem o medo constante de não sermos suficientes, temos que assumir nossa história. Também temos que reagir à vergonha de uma forma que não exacerbe a nossa vergonha.

Uma forma de fazer isso é reconhecer quando estamos com vergonha para que possamos reagir conscientemente. Vergonha é uma emoção avassaladora. Homens e mulheres com altos níveis de resiliência à vergonha sabem quando ela está se manifestando. A forma mais fácil de conhecer a vergonha é cultivar uma consciência de seus sintomas físicos.

Como mencionei no capítulo sobre coragem, compaixão e conexão, sei que estou me debatendo com a vergonha quando uma sensação quente de insuficiência passa por mim, meu coração dispara, meu rosto esquenta, minha boca seca, minhas axilas formigam e o tempo desacelera. É importante que conheçamos nossos sintomas pessoais, para que possamos ser “intencionais” em nossa reação à vergonha.

Quando estamos com vergonha, somos impróprios para consumo humano. Precisamos nos endireitar antes de dizer, fazer ou escrever qualquer coisa de que possamos nos arrepender. Eu sei que preciso de 10 a 15 minutos antes de me endireitar e, com certeza, vou chorar antes de estar pronta. Também preciso rezar. Saber isso é um dom.

Se você quer começar logo a desenvolver resiliência à vergonha e a reivindicar sua história, comece com estas perguntas a seguir. Descobrir as respostas pode mudar sua vida:

1. Em quem você se transforma quando está acuado pela vergonha?

2. Como você se protege?

3. Quem você chama para lhe ajudar a trabalhar sua sede de vingança, ou a vontade de chorar e se esconder ou a inclinação a agradar os outros?

4. Qual é a coisa mais corajosa que você poderia fazer por si mesmo quando se sente diminuído e magoado?

Nossas histórias não são para qualquer um. Ouvi-las é um privilégio e devemos sempre nos perguntar, antes de compartilhá-las: “Quem conquistou o direito de ouvir minha história?”. 

Se tivermos uma ou duas pessoas que possam se sentar conosco e reservar um espaço para nossas histórias de vergonha, e nos amar por nossos pontos fortes e fracos, poderemos nos considerar com muita sorte. Não precisamos de amor, pertencimento e atenção às nossas histórias de todas as pessoas que fazem parte da nossa vida. Mas precisamos disso tudo de pelo menos uma pessoa. Se tivermos essa pessoa ou um grupo pequeno de confidentes, a melhor forma de reconhecer essas conexões é reconhecer nosso valor pessoal. Se estamos trabalhando por relacionamentos baseados em amor, pertencimento e história, temos que começar da mesma forma: eu sou valioso.

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