Hoje nossa reflexão é sobre interpretar.
A palavra vem do latim INTERPRES e INTERPRETOR, e significa intermediário, ajudante, negociante, e também aquele/aquilo que explica, traduz, compreende, avalia.
Aprendemos desde muito pequenos a dar sentido ao “Eu”. Com base no que compreendemos, identificamos e separamos o que está dentro (meu) e o que está fora (seu).
Um dos primeiros instrumentos que utilizamos para essa finalidade são palavras. No início, apenas sons; depois, significados. E assim seguimos, trazendo sentido à vida por meio delas.
Registramos internamente sensações, emoções, experiências… tudo por meio delas. O que é dito, e o que não é dito. Tudo tem uma voz, um código, um som.
Paralelo a esse processo, e também para que possamos registrar o que identificamos, aprendemos a interpretar. Observo que atualmente há uma pressão muito grande por interpretar.
É como se não tivéssemos mais tempo para “não saber” sobre algo. “Você não sabe? Como você não sabe disso? Você está por fora. Você anda muito desligado.” E assim nosso computador interno se enche de dados inúteis, colaborando para uma sensação de estresse contínuo.
Ansiamos por interpretar. Interpretamos o tempo todo! Se você fala comigo, tiro conclusões. Se você não fala comigo, tiro também. A mente precisa compreender. Será? Será que ela consegue realmente compreender com objetividade o que vê?
Como lido com o estado de não saber? Como me sinto quando percebo não saber sobre algo ou alguma coisa? Que sensações, pensamentos ou emoções surgem quando “não saber” se apresenta em minha vida?
Nos manifestamos por meio da linguagem, de modo que cada palavra tem um valor. O modo como você fala consigo mesmo molda seu corpo. O modo como você fala com as pessoas, molda seus relacionamentos.
Interpretar envolve a arte de ser autenticamente curioso. Envolve ser aberto ao novo, reduzindo o senso de antecipar conclusões diante de questões que o viver nos traz. Curiosidade reduz sofrimento.
A seguir, compartilho o trecho de um livro para ajudar em nossas reflexões.
Boas reflexões
Com amor,
Lyzi
“Sempre que não encobrimos o mundo com palavras e rótulos, retorna à nossa vida a sensação do milagre, que foi perdida muito tempo atrás, quando a humanidade, em vez de usar o pensamento, deixou-se possuir por ele.
Uma profundidade volta à nossa vida. As coisas recuperam sua novidade, seu frescor. E o maior de todos os milagres é vivenciar o eu essencial antes de quaisquer palavras, pensamentos, rótulos mentais e imagens.
Para que isso aconteça, precisamos desvincular nossa percepção do eu – da Existência – de todas as coisas que se misturaram ou se identificaram com ele. Este livro trata justamente dessa separação. Quanto mais rápidos somos em ligar rótulos verbais ou mentais a coisas, pessoas ou situações, mais superficial e sem vida nossa realidade se torna.
Assim, mais fracos nos mostramos em relação a ela, ao milagre da vida que continuamente se desenrola dentro de nós e ao nosso redor. Com essa atitude, podemos ganhar inteligência, mas perdemos sabedoria, assim como alegria, amor, criatividade e vivacidade. Essas qualidades ficam ocultas na lacuna silenciosa entre a percepção e a interpretação.
É evidente que necessitamos usar palavras e pensamentos. Ambos têm sua própria beleza; no entanto, será que precisamos ser aprisionados por eles?
As palavras reduzem a realidade a algo que a mente humana é capaz de entender, o que não é muita coisa. A linguagem consiste em cinco sons básicos que se originam nas cordas vocais. Eles são as vogais a, e, i, o, u. Os outros sons são consoantes produzidas pela pressão do ar: s, f, g, e assim por diante.
Você acredita que uma combinação desses sons básicos é suficiente para explicar quem é você, o propósito supremo do universo ou até mesmo o que uma árvore ou uma pedra são em essência?”
Fonte: Trecho retirado do livro “Um Novo Mundo”, por Eckart Tolle